terça-feira, 11 de setembro de 2007

I Manifesto Sócio-Artístico

Recife, 31 de Agosto de 2007

Literários e cidadãos do mundo,

Nessas últimas horas tive pensando o que era literatura. Os versos pareciam fugir da minha fronte. Vieram Aranhas, Machados, Andrades, Amarais atacando-me como se eu tivesse a responsabilidade de erguer um pilar e conceito novo. Na noite sombria que me passou, das lágrimas dos que choraram por tristeza, na calamidade da lua cheia, quase não dormi. E agora estou aqui, cumprindo as formalidades impostas pelos meus passados, camuflando-me na vertigem das palavras dúbias, para que se faça a conexão comigo e o simbolista. E o que é o simbolismo? Isso é outra noite de insônia, prometo quando puder.
Não estou aqui para ser muito conceituista, se é que essa palavra existe. Drummond, através da lua cheia que só apaixona os amantes e joga com seu farol luzente um medo na noite escura aos pecadores, diz-me que “nada além de poucas palavras”. Então que se retire os M’s de seu nome para isso não parecer uma contradição. Mas autor melhor que esse haverá de nascer.
Esse começo me pareceu tudo aquilo que não queria dizer. Talvez, a malícia do segredo de ter uma missão e jamais contar qual era, mas cumpri-la e no final sentir-se feliz, era para eu ter feito. Já que me sucumbi desse direito, deixe-me continuar.
A literatura aparece rastejando na frente do homem, porém, ele só a consegue ver quando sai de sua imaturidade material e enxerga que as letras são como refúgios e manifestos. Através dela, centenas de versos foram escritos e se perpetuaram na história. Desde Homero, até a anti-ditadura camuflada de versos-Chicos, conhecemos a cronologia, apesar que, escritas por mãos e pensamentos próprios, que externavam um pouco de sentimento naquilo que produzia.
E esse é segundo passo para o que se caracteriza a literatura. As emoções ali presentes tornam aquela poesia particular e ao mesmo tempo universal, por se tratar de temas universais. E é também através dela que as palavras se organizam de forma talentosa ou não, dependendo do domínio artífice do escritor.
Mas proponho algo novo. Venho aqui para desafia-los, já que o dia impede que as vozes veladas e veludosas vozes dos poetas passados cheguem até mim a criticar. Por quais infernos escreveram de formas tão diferentes na escalonada cronologia histórica? E é por causa de vocês, que a liberação poética foi se tornando algo tão normal, que até eu, estou me melando de poesia a fazer um único verso. E é por causa deles, que vivemos, também, a poesia marginal com palavrões e com o renascimento das pornochanchadas, vividas antigamente, mas pelo menos elas eram camufladas pelas horas já tardes da madrugada. E viva a diferença.
Queria caracterizá-lo como um manifesto; Quiçá os verbos malfazejos que me destroem, deixem que isso aconteça. Mas um manifesto sem objetivo, em prol de uma cultura já imposta, da liberdade de versos e expressões, de que adianta.
Como sei que até o escárnio mau feito, até a ferrugem que consome a consciência do leitor com a leitura de Drummond são literaturas, proponho que ninguém faça literatura.
Com esse gesto, seria impossível haver tristeza, porque sem literatura, não há reflexão, logo assim não há tristeza. “Quando escrevemos somos incompletos”, para claricear um pouco. Que se queime todos os papéis. Chamam-me de pessimista? É porque não viram as tristezas escorridas dos meus versos dos momentos fugidios, onde me repouso no triste verso, e ponho-me facetadamente dividido e destruído, isso sim é pessimismo. Prefiro ser alienado, quantos são? Beber muito líquido preto, sentir-me bem com isso. Oscular-me no sabor menta do capitalismo e ainda sim, sentir-me bem. Alienar-me vendo que o luxo do Grandes Centros de Compras parece ser um pouco meu e que tudo aquilo me pertence. Que todos têm oportunidades. Que todos são irmãos, só que a caridade, que ajuda os aflitos, de nada serve, porque sustenta o mendiguismo. E mesmo assim, sentir-me bem. Não crer em Deus e viver intensamente e mesmo assim, no momento de maior dor, rogar a Algo Maior a proteção.
E nesta imposição de se destruir os papéis, que se destrua o amor, também. Para que não nasça literatura em lugar algum, porque a literatura provem do amor.
Que os poetas não me repudiem, já mortos, no Além. Mas que me agradeçam, pois seus versos serão esquecidos e assim tornar-nos-emos mais feliz, ignorantes e puros, assim como era Eva e Adão antes da maçã. A maçã do conhecimento não mais comeremos, torna-nos indignos ao paraíso eterno. Que se destrua até as canetas, deixem só os teclados computadorizados com os bate papos virtuais sintéticos e destruidores da gramática portuguesa.
Ironia.
E nesse manifesto sócio-artístico, resta ao mundo aqueles que tiverem vontade de chorar, de se lamentar, de querer mudar; pois só esses conseguirão fazer poesia e sair vivos.
Se a alienação não me chegar, espero que consiga fazer a literatura; Agora, pois, já me defino na literatura: tudo aquilo que foge da alienação.
Agradeço aos sussurros no meu ouvido dos poetas que queriam tanto falar, mas no passado que eles estão, protegidos pela morte, só resta-lhes a intuição. Agradeço àquela que me fez pensar no que era literatura e a desafiar-me com seu olhar clínico, a fazer com que eu me vista de poesia e supere a lápide. Agradeço a Deus. Agradeço a você que conseguiu me ler.

Sincera e fraternalmente,
Fernando” Maciano de Paula Neto

Paz Profunda;

4 comentários:

Fernando" M.Neto disse...

Isso aqui tá perdido...
À miséria da solidão dos sem-palavras.
Pobre sou. Ainda arrisco.

Unknown disse...

Confesso: fiquei sem fôlego ao ler o manifesto. Essa cascata-mescla de idéias e sentimentos me deixou meio sem ar, meio nervoso. E pressinto que tenho muito a declarar sobre o manifesto, já que ele é exatamente isso - um manifesto, algo que se revela, se manifesta. E instiga, e desafia. Então, vamos lá! Imprimí o texto, vou lê-lo com responsabilidade e sensibilidade. E quando voltar aqui, terei algo que não seja fruto do impulso de apenas retormar meu fôlego.

Ah! Arrisque sempre! Os sem-palavras geralmente são, sim, solitários, mas nunca estarão perdidos, hehehehehehe!!!

Elilson disse...

primeiramente, quero dizer que seu conceito de literatura resgatado no tempo através das vozes susurradas dos q já se foram, como mesmo falas, casou-me um enlevo na alma, ao ver que existem jovens diferentes! jovens que mantem seu pensamento crítico vivo em meio a toda alienação pertubadora q assola e parece ter dominado nossa sociedade.
Que de fato nos arrisquemos, e que sempre exista literatura, indagações, tristeza!

Fernando" M.Neto disse...

Salve-se quem puder. Desculpe-me o ligeirismo literário, Frater Antônio, infelizmente, os sentimentos que me embasaram na hora da escrita foram esses: fugaz e tenacidade.

Obrigado pelos comentários, são sempre úteis a mim: dão-me força.

Paz Profunda